Formada em 2001, a The Automatics tem em sua formação Alexandre Alves (guitar/vocals/keyboards), Christiane Pimenta (bass), Joaquim Dantas (drums), Adriano Azambuja (guitarrista convidado) e Dante Augusto (guitarrista e tecladista convidado). Além da formação inusitada, o The Automatics possui em sua discografia 10 ótimos álbuns e um box set lançado em 2011, com todos os seus trabalhos anteriores. No momento estão divulgando seu cd intitulado Diagramma, e em Setembro sairá um ep split em conjunto com a banda Mad Grinder, mantendo sua sonoridade shoegazer/indie rock 90. Confira a entrevista a seguir, cedida por Alexandre e Chris.
Como é manter uma banda em todos esses anos ? Muita coisa mudou prá melhor ou pior nesse meio tempo, na sua visão ?
ALEXANDRE : Manter uma banda na ativa por quinze anos é muito difícil, ainda mais no Brasil onde a cena musical independente não se auto sustenta, excetuando alguns casos raros.Mantemos a banda viva porque gostamos do som que fazemos e porque achamos que lançar discos é como fazer a trilha sonora de nossas vidas. Um fato que mudou muito nos últimos anos foi a facilidade do uso da tecnologia para se gravar, mas tenho que confessar que as melhores gravações que fiz - em termos de qualidade sonora - foi quando não havia computador no estúdio, gravando tudo em fita rolo. Falo no Chronic Missing,a banda que eu e Chris tínhamos nos anos de 1990. Outro fator que mudou muito foi a nova geração 2000, que não tem paciência para escutar um disco na sequência e fica ouvindo "música aleatória" no computer. Acho triste isso, por outro lado, tenho certeza que uma coleção de canções não morrerá tão cedo.
Diagramma difere em algo dos trabalhos anteriores ?
CHRIS : Achamos que o disco todo está melhor gravado e gravando com dois bateristas distintos, com certeza, algo sai diferente. Mas em questão de composição, presumo que é os Automatics de sempre, misturando distorção e melodia. Minha predileta é "Liquid love letter". O engraçado é que ultimamente muitas pessoas mais jovens e que não conheciam a banda dizem que nós somos uma banda shoegazer. Devse ser porque eu e Alexandre apertamos muito nossos pedais e ficamos olhando pro chão nos gigs. Rsrsrs.
Fale de como foi a produção desse novo trabalho, estúdio, gravações, etc...
ALEXANDRE : Lançamos um EP em 2013, o Lowfire, que tinha 06 canções e foi o começo de tudo. Adoramos o resultado, pois gravamos num estúdio muito bom em Natal, o Zamhouse, e com pessoas bem experientes. Depois, em 2014, gravamos mais duas faixas em São Paulo no estúdio Quadrophenia, de Sandro Garcia, guitarrista do Continental Combo, que também ficou responsável pela produção. Foram as últimas gravações com Waldemar Ramos, que foi morar na Espanha. Em 2015, gravamos mais 05 canções no Ícone, estúdio que sempre gravamos desde 2002. A gente se sente muito bem lá, sob os cuidados de Vlamir Cruz. Sempre gravamos rápido e eles entendem isso, não querem que a gente fique lá uma semana, até porque é um perigo para os amps deles. rsrsrs.
Vocês já conheciam o pessoal do Microfonia, selo que lançou esse novo trabalho ? Como foi esse contato ?
CHRIS : Conhecemos Olga Costa, uma das coordenadoras do selo, desde a década de 1990. Ela sempre gostou dos Automatics, tem todos os discos e foi tudo natural, Eles bancaram uma parte da prensagem e ficaram com uma parte dos discos, fazendo o esquema independente funcionar. Se fosse sempre assim, o cenário independente neste país iria ser bem melhor.
E essa história de "baterista convidado" ? Difícil encontrar alguém pra assumir os tambores ?
ALEXANDRE : Aqui em Natal é quase impossível achar alguém que goste das bandas que curtimos. Imagine então encontrar um baterista. Waldemar Ramos, que ficou conosco entre meados de 20111 até 2014, tocava no Bandini, uma das melhores bandas potiguares que já vi, mas ele foi morar em São Paulo e depois na Espanha. Ele foi o melhor baterista que já vi. Nas sessões do estúdio Quadrophenia, sem tocar durante quase um ano, ele ensaiou conosco uns 15 minutos e já foi gravar. Impressionante. Quem toca conosco desde fins de 2014 é Joaquim Dantas, do Jubarte Ataca, que acaba de ter disco lançado pela Baratos Afins. A Jubarte, que é um grupo de surf music, é a banda oficial dele, mas como eles fazem poucos shows, até agora somente bateu os horários em um fim de semana. Joaquim conhecia a banda há tempos, tem quase metade de minha idade e o triplo de energia. Um cara alto astral, teve um gig que faltou o pedal do bumbo e ele tocou do mesmo jeito, no piloto "automático".
Em 2011 vocês lançaram um box set intitulado Reverse. Dá prá falar mais sobre o conteúdo dele ?
CHRIS : O box set foi lançado porque a gente vinha notando que as vendas de nossos discos estavam diminuindo. Assim resolvemos juntar todos os nossos discos. 07 álbuns entre 2002 e 2011, 02 EP's, um CD split e o disco triplo de 2004, quando eu ainda não estava na banda. Ainda temos alguns poucos exemplares de nossos discos, mas o box set resolve o caso de quem não quer comprar tudo, gastando bem menos. O box set tem um CD em MP3 com todos os discos, uma coletânea com 02 inéditas, um DVD com nossos 10 clipes e um CD ao vivo com 09 faixas.
Como é o cenário musical de Natal. Há boas bandas ? Pode citar algumas ?
ALEXANDRE : Muitas bandas, algumas muito boas, outras nem tanto. Umas famosas, outras obscuras, como Talude (neo-shoegazer), Jubarte Ataca (surf music), Orchestre Noire (ambient electronic), Mad Grinder (grunge stoner), Monster Coyote (sludge metal) Muita diversidade, mas poucos locais para tocar trabalho autoral, um fato que já dura décadas. Há sempre lugares abrindo e fechando, o que prejudica a todos, pois não há uma continuidade. Acho ainda mais difícil para nós, porque tocamos muito alto, às vezes o P.A. de voz e o retorno de palco não dão conta do recado. Já deixei de cantar algumas canções e passamos a tocá-las de forma instrumental, pois não escutava minha voz(!). Mas o pior mesmo são as bandas boas que acabam: Bandini, Distro, Kentucky, Bop Hounds, Alien TV, Bonnies, GRM Bluesband, Montgomery... a lista é imensa.
E como são os shows do the Automatics ?
ALEXANDRE : Em todas as nossas apresentações o repertório nunca foi o mesmo, nem nos primeiros gigs. Acho enfadonho tocar as mesmas músicas sempre e na mesma ordem, Deve ser por isso que a gente grava tanto. Normalmente, os gigs são mais barulhentos que nos discos, mas também sabemos tocar em versão "light" quando for preciso, embora faça bastante tempo que não tocamos em formato "semi-acústico". Fazemos poucos gigs pois todos na banda tem outras ocupações, com a média de apresentações não passando de 15 por ano. E ultimamente tocamos com Adriano Azambuja ou Dante Augusto nas guitarras, deixando tudo um pouco mais imprevisível. Ano passado tocamos nos maiores festivais daqui, o MADA e Dosol, além de tocarmos no Under The Sun e Circuito Cultural Ribeira. Estamos indo tocar na Virada Cultural em setembro e escalados para o festival Catamaran, tudo este ano ainda. E vamos lançar nosso Cd split com o Mad Grinder, o MGTA, em setembro, com cinco novas faixas nossas. Em dezembro, já há sessões marcadas para nosso disco de 2016. E assim vamos.
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