Fundir rock com ritmos regionais não é nenhuma novidade nos dias de hoje. Que o diga Fellini, Secos & Molhados, Cabruêra, Novos Baianos, Mutantes, Nação Zumbi e tantos outros grupos que já despontaram no cenário musical. E para engrossar o caldo dessa vertente sonora, entra na história o NaLapa, duo (que já foi um quarteto) formado por Bruno Medeiros (violão e gaita com efeitos,programações) e Lueni vilas (vocal,percussão e programações). Estão divulgando seu segundo trabalho,intitulado Samblues For Exiled Dreams, onde as faixas passeiam por um emaranhado de sons e ritmos. Confira abaixo, a entrevista cedida pela banda.
O que levou o NaLapa a virar um
duo ?
Durante a história do Nalapa ,
sempre tivemos problemas com a falta de profissionalismo e/ou a falta de
rendimento de músicos para acompanhar as idéias propostas de arranjos e das
músicas. Entre idas e vindas, tentamos primeiramente, pagar como pudíamos um
baterista para nos acompanhar – que foi como gravamos o primeiro CD, mas
cansados da falta de compromisso optamos por uma saída mais radical e
adquirimos uma máquina de ritmos, uma bateria eletrônica que programamos como
queremos, e onde fazemos a parte de bateria, percussões e o baixo.
Acha que facilita ou atrapalha
essa mudança ?
A dinâmica de duo sempre existiu desde o
começo da banda, pois mesmo com os outros membros, parecia que a banda
significava algo especial apenas para nós dois. Sempre fomos os dois que
corremos atrás das coisas. O que mudou de fato, foi a sonoridade, pois tivemos
que nos adaptar a alguns sons da bateria eletrônica, que nunca foi a intenção
inicial – por mais próximo que ela chegue à uma bateria convencional, não é a
mesma coisa. Além disso, aparentemente, as coisas começaram a caminhar mais
rapidamente, uma vez resolvidas as batidas na bateria, os arranjos e etc...podemos
ensaiar com mais afinco. Começamos a compor em setembro e estávamos gravando em
dezembro já.
Definiria o som de vocês como World
Music ?
Não definiríamos assim, mas
entendemos que essa é uma das classificações possíveis, ainda mais lançando um
CD temático que se propõe a mesclar samba e blues, e os vários ritmos que
permeiam o universo desses dois. Sendo que um é brasileiro, outro estadunidense,
portanto, nada mais World Music né? No entanto, o problema da World Music como
conceito é que traz em si, uma aura de música sem sentido, sem intenção, sem
brios... Muito longe do que propomos, somos roqueiros, gostamos de MPB e usamos
essas influências nas nossas músicas. Temos certeza que bandas como Beatles,
Pink Floyd, Led Zeppellin arranjaram canções da mesma maneira como o fazemos
(utilizando e mesclando sons de outros países e culturas) e são consideradas
Rock, o que fazemos é apenas seguir essa tradição e acentuar pelo lado
brasileiro. O mesmo que artistas como Novos baianos, Mutantes, Raul Seixas,
Paralamas do Sucesso, Nação Zumbi, Lenine entre outros, fizeram e fazem. No fim
do dia, e no fundo, somos felizmente, apenas mais uma banda de rock
independente constituída de músicos brasileiros.
Totalmente diferentes, O Samblues
For Exiled Dreams é um álbum temático, a sonoridade dele vem de um estudo sobre
as origens comuns do samba e do blues e a história desses dois ritmos, como
eles vieram dos negros, foram segmentados culturalmente – carregar um violão ou
uma guitarra na mão já deu cadeia para muita gente – como foram perseguidos e
como triunfaram como expressão cultural. Particularmente, achamos lindas essas
trajetórias.
Além disso, esse álbum foi
pensado como uma resposta aos sentimentos que estávamos tendo em relação aos
ouvintes do Brasil, achamos que o público europeu, e fora do Brasil está mais
disposto a ouvir seriamente sons novos com propostas novas. Achamos que mundo
afora, poderíamos dialogar melhor e encontrar nossos pares, o que não excluiria
o Brasil, mas infelizmente aqui ainda há a cultura de “lamber o ovo” da opinião
de fora, portanto, se um dia chegarmos a ser seriamente tratados por lá,
sabemos que isso vai se transferir quase que automaticamente aqui. Por isso
tudo, decidimos gravar e compor as músicas em inglês.
Fora esses conceitos, também
houve uma melhora técnica visível nossa, tanto, com nossos instrumentos
(incluída a bateria aqui), como em relação ao entendimento das gravações, do
que soaria melhor num CD e da feitura das músicas para isso.
Fale como foram as gravações .
Dessa vez, fizemos tudo
diferente, optamos por um ambiente caseiro, no outro CD, gravamos com um
produtor bem conceituado no mercado, num ótimo estúdio, porém muitas coisas
deixaram a desejar e achamos que boa parte disso, teve a ver com a falta de
entusiasmo e de companheirismo no processo. Então, decidimos por um sistema
menor, co-produzimos e gravamos no Home estúdio do Yves Aworet que além de
excelente músico, e de ter acompanhado alguns bons nomes do cenário, é primo de
um dos integrantes da banda e um dos “amigos da banda”. Começamos a gravar em
Dezembro, um material que foi escrito previamente a partir de Setembro e esse
ambiente fez com que as gravações fossem mais relaxadas. Conseguimos captar
realmente o que queríamos. Temos a participação do próprio Yves, tocando piano
em “Just Sad”, da Renata dos Anjos no arranjo de vozes em “Focus Stupid” e da
Juliana Oakim com seu violino em “Ain´t no place like home”.
E ao vivo, como fazem para
dividir as funções e tocar ?
Ao vivo, temos a bateria eletrônica
que reproduz a sua parte de bateria, algumas percussões e baixo, já a Lueni
Vilas canta e toca algumas outras percussões e Bruno Heleno toca violão e gaita
(com efeitos). Somos um duo múltiplo (risos).
Hoje em dia com a tecnologia e
programas de aúdio a favor, acha que facilitou o trabalho das bandas
independentes ?
Se as pessoas aprenderem sobre
eles sim, no entanto, notamos que há uma deficiência enorme de estilo, de
gosto, com o que se pode fazer tecnicamente com esses programas. Muitas bandas,
especialmente as de rock independente na hora de usar esses programas acabam
perdendo a mão e suavizando por demais seus sons, tirando a parte suja em
demasia, o padrão “Liminha - Bonadio” de produção perdura (guitarras baixas,
voz destacada, baterias comprimidíssimas no fundo...). As bandas fazem isso
para se aproximarem da estética Pop, mas acabam por se distanciar da estética
do Rock. Imagina um álbum dos Stones sem ruídos, sem sujeiras..., e há algo
mais rock n´ roll que os Stones? E eles estão aí, há anos, entregando músicas
relevantes e boas...
E como está a banda em termos de
shows ?
Este é um problema sério de
qualquer banda independente brasileira, a falta de shows. Há algumas
iniciativas boas sobre isso como o “Festivais brasileiros associados” e o “Toque
no Brasil”, mas ainda é muito pouco pro tamanho e quantidade de bandas do país.
Cabe ressaltar que o poder público e a legislação atrapalham muitas vezes isso,
vide a Banca do Blues no centro do RJ que deixou de fazer eventos na calçada
(nem aos sábados, quando ninguém passava por ali) e a atuação do Ecad (cobrando
em eventos que bandas independentes tocam suas próprias músicas). Conosco, este
problema é pior ainda, pois somos apenas dois membros e temos uma bela
infra-estrutura para carregar por nossos próprios meios. Ainda muitas vezes,
soma-se a isso, pagarmos para tocar em “festivais” onde sequer é permitido
passarmos o som anteriormente e os grupos têm 30 minutos para montagem de palco
e apresentação. O cenário de música ao vivo é bem complicado no Brasil para
bandas independentes e é necessário criarmos espaços e situações viáveis onde
elas possam tocar.
Quais as influências da banda ?
As influências vêm de todas as
artes e pensamentos que representavam em sua época, uma quebra de paradigmas,
ou de marginalidade, ou ainda, de questionamento ao status quo. E aí, vai desde
uma fotografia do Augusto Malta sobre o Rio antigo, passando por pixações de
Basquiat, um filme do Kubrick ou um poema do Drummond. Musicalmente, citamos
Pixinguinha, João Gilberto, Legião Urbana, Moska, Cordel do Fogo Encantado, Los
Hermanos, Janis Joplin, Hendrix, Zeppellin, Beatles, Nirvana, Radiohead, e
muitos outros mais... isso daria ainda uma tese de citações (risos).
Planos para o futuro ?
Vivermos diretamente da nossa
arte e cada vez mais alimentá-la com novos e diferentes trabalhos...
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