Futebol,cerveja e rock’n’roll: a tríade perfeita. Ao menos para o Kopos Sujus,banda surgida em 2008,na zona sul carioca.O trio é formado por Alexandre Bolinho (guitarra/vocal),Davi (bateria/voz) e Marcelo Ramones (baixo/voz),e possui 3 cds lançados.O último - “Os Tímidos Meninos Do Underground,lançado ano passado - obteve boas críticas, fazendo com que a banda se apresentasse fora do RJ,abrindo para bandas representativas do cenário,como a Broken Toyz (Argentina),Anti Nowhere League (UK), Ratos De Porão, Mukeka Di Rato,entre outros.Confira essa entrevista cedida pelo Alexandre Bolinho.
Como foi seu início dentro do punk rock ?
Eu curtia Plebe Rude. Pra caralho. Anos 80, BRock, aquela parada toda. E através da Plebe conheci Clash, Cólera, etc. E antes eu já curtia Ramones, que foi meio que a janela para um mundo de libertação pra mim: aquela música alta, rápida, guitarras distorcidas, me pegou pelos ouvidos e pelo coração e minha vida degringolou dali em diante.
E com o kopos Sujus,como foi ?
Nós tínhamos uma banda de hardcore, desde 2000 juntos – eu, o Marcelo e o Fábio (ex-batera). Em um dado momento, lá por 2007, eu cansei da porra toda, larguei a banda e resolvi parar com o underground. Tava meio cansado de várias paradas dentro da “cena”. Mas a maquininha de compor músicas seguia à mil, e eu andava ouvindo muito punk 77 – Rezzillos, Chelsea, 999, Buzzcocks,etc. Um dia convidei os moleques pra irmos tomar uma cerveja no estúdio e levar um som, de bobeira. E de cara saíram 5 músicas. Em duas horas, prontinhas, redondas. Pronto, bateu aquele tesão de voltar a tocar – que nunca sai de nós né ? – e rapidamente estávamos com nome, 10 músicas, covers ensaiados e voltando a tocar por bares imundos cidade afora.
Você vem de uma família de violeiros, rodas de samba, etc.Se lembra de algo interessante dessa época ? Onde rolava esses encontros de família ?
Nitéroi brother, minha família é de lá. Tenho mais “flashes” que lembranças concretas. Lembro muito daquilo como um momento coletivo, todos se reuniam na sala da casa da minha avó para cantar, uns 3 ou 4 tios meus tocavam violão e as mulheres cantavam. Tocavam samba dos anos 50, alguma coisa de bolero, etc. Eu e meus primos ficávamos ouvindo, parávamos de brincar pra ficar vendo meus tios tocando violão de 7 cordas...era fera!
Voltando á banda,fale dos CDs lançados.
Lançamos 3 discos – dois EP’s (o “Último A Sair”, de 2009 e “Os Tímidos Meninos Do Underground” em 2012), e um full lenght virtual, o “Banheiro Químico”, em 2011. Os dois EP’s foram processos lentos de elaboração das músicas que tocávamos na época de sua gravação. O “Banheiro Químico” foi uma coleção de músicas que tocávamos sempre e nunca gravávamos. E eu particularmente gosto de cada um, por algum detalhe diferente. São musicas que eu gostaria de ouvir se não fizesse parte de nenhuma banda.
E os clipes ?
Só filmamos até hoje um clip, da musica “A Musa Do Balcão”, do EP de 2012. Gravamos em dois dias no Saloon 79, um com imagens de um show nosso e no outro pra fazer a “historinha”. Para o “elenco” chamamos amigos nossos, que foram na boa, no melhor espírito de diversão. E foi mega divertido gravar, 4 horas de risadas e muito suor para meu irmão Edu Mendonça, que dirigiu e gravou o clip com a Bruna, esposa dele.
E essa relação do kopos Sujus com rock e futebol vem diretamnete de você, ou os outros membros da banda curtem a o lance ?
Todo mundo da banda curte futebol, em diferentes escalas. Eu sou viciado mesmo – assisto até XV de Piracicaba e Boitucandense na TV, Vou a todos os jogos do meu time no estádio, etc. O Marcelo é rubro negro doente também, vê todos os jogos. Só o Davi que curte pouco, até porque o Vasco não dá muitos motivos de alegria pra ele! HAHAHAHA... .Eu particularmente acho que a relação de um povo com o futebol fala muito de sua cultura. O futebol ainda segue sendo, apesar de sua crescente mercantilização, a alma das classes operárias ao redor do mundo. Chegue em uma aldeia do Tibet ou em um subúrbio da França e tente “quebrar o gelo” com os locais: é só armar uma pelada ou falar de futebol.
Como você define o público do Kopos Sujus ?
Cara, temos um publico bem diversificado, que, acho, deriva da diversidade de amigos que temos no underground: já tocamos com bandas de Grind, Thrash, Surf, Rockabilly, Punks, etc. E sempre a galera nos recebe com o maior respeito. Os shows são sempre aquela putaria né: cervejas pro alto, sing-alongs e uma banda sem o menor senso de ridículo! HAHAHAHAHAHAHAHAHA.
Você já passou por diversas bandas e pessoas da cena rocker nos anos 90.O que acha que mudou desde essa época, até os dias de hoje ?
Fundamentalmente, a relação das pessoas com a música. Acho que o underground sempre se reconfigura, se modela às demandas de sua época, mas obviamente a relação das pessoas com a música hoje, o caráter de descartabilidade das bandas e a facilidade que as mídias virtuais trouxeram reconfigurou o “como escutamos musica”, o que conseqüentemente reconfigura como o cara se relaciona com as bandas, etc. Não acho que seja “melhor ou pior” que antes, mas com certeza é diferente, neste aspecto.
você considera a tecnologia aliada á divulgação de uma banda nos dias de hoje ?
100% aliada, claro! A molecada nem imagina o que era gravar, uma a uma, 100, 200 fitas cassetes, xerocar e recortar capinha, escrever carta social pra uma banda e esperar um mês pra receber a fita demo deles, etc. Agora, não pode ficar restrito à internet né? Uma coisa que não vejo mais pela cidade, por exemplo, são filipetas e cartazes de shows underground espalhados pelas ruas e postes. Final do ano, quando cheguei em Barcelona, me impressionou como, em cada canto da cidade antiga, tinha um cartaz de gig hardcore, de show punk, tudo pelas paredes, balcões de bares e livrarias, etc. E isso faz a maior diferença do mundo!
Quais as influências do Kopos Sujus ?
Ramones e Clash. De cara. Mas tem muita coisa no meio; Social Distortion, Rezzillos, Reverend Horton Heat, Agent Orange, Dick Dale, Inocentes, Cólera, Rocket From The Crypt, etc.
Prá finalizar, qual seria sua escalação de power trio preferida ?
Porra!! Que complexo, mas let’s Go ! Tommy Ramone na bateria – o criador do estilo “tu-pá-tu-pá”; minha musa eterna Kim Gordon no baixo; e ele, o mestre, meu “ídalo” supremo, BOB MOULD na guitarra e voz! Que trio hein! Porrahn bebê !!!!...Obrigado pelo espaço e pela oportunidade.
Contatos: www.kopossujus.com.br