Tocar em lugares distantes, com equipamento precário, passar noites em claro, sem saber se onde você e sua banda vão tocar, terá uma quantidade de público regular.Qual banda não passou por essas e outras ditas "furadas", durante o percalço de sua existência ?
Agora imagine uma banda que próximo a completar 16 anos de existência,ainda tenha fôlego para subir num palco e mostrar ao que veio ? O Inércia é uma dessas poucas bandas, que continua na batalha, mostrando seu Punk/HC .Formada por João Luiz (vocal),Rafael A. (guitarra),Fabiano Camelo (baixo) e Felipe Ninja (bateria)-este último,o mais novo integrante-estão divulgando desde o ano passado,a coletânea Manifesto, que reúne as 2 demos da banda.O Box Alternativo foi conversar com a galera da banda ,e foi saber das novidades,dentre elas um novo cd mais trabalhado.
COMO VC DEFINE NESSES 15 ANOS O INÉRCIA, NA CENA HARDCORE NACIONAL ?
João Luiz: Quando o
Inércia foi montado em 1997 e surgiu fazendo shows em 1999,eu ainda estava
muito focado no HC/Punk da década de 80, e no final dos anos 90, não surgiu
tanta banda que me empolgasse, muitas deixaram de lado as letras de protesto e
consciência, para só manter o som agressivo,salvo as banda de SP. Então nós do Inércia, queríamos
resgatar isso.Daí começamos o que outras bandas de SG pararam.
FALE UM
POUCO SOBRE O INÍCIO DO INÉRCIA ?
João Luiz: No
começo, eram Thiago (batera), Homem de Pedra (baixo), veio o Miguel na guitarra
e o vocal ainda iria se firmar, pois eu entrei por último, mas fui quem acabou
se adaptando melhor ao material que eles já tinham, músicas gravadas em violão
e voz por Thiago, que fui escutando e adaptando ao meu estilo de vocal.Então
começaram os primeiros ensaios, e antes mesmo de fazermos um show, resolvemos
gravar as músicas, num CD e distribuir em K7, que se chamou "Sem
Futuro".
E O NOVO
BATERA,O FELIPE ? VOCÊS JÁ SE CONHECIAM ?
João Luiz: Bom, eu
já tinha visto o Felipe em alguns shows, mas eu não o conhecia direito, depois
do primeiro ensaio, foi como já se conhecesse há muito tempo, confesso que as
bandas em que ele tocou, eu não cheguei a ver nenhum show, mas o Rafael A. e o
Fabiano já o conheciam, e com bom antecedentes o resultado saiu melhor do que o
esperado.
Felipe
Ninja: Eu já conhecia o Fabiano por termos estudado mais ou menos na mesma
época no Henrique Laje e também sempre esbarrava com ele nos shows e por causa
dos amigos em comum: ele tocando no Michael J Fox e eu no HidroCarboneto na
época. Fora as frequentes esbarradas em shows de Hardcore por aí... e o mesmo
com o Rafael, que eu conhecia já de vista da época do Nauzia. João sempre foi a
carta marcada do Inércia.
QUANTOS
CDS LANÇADOS ? E COLETÂNEAS ? FALE UM POUCO DE CADA UM.
Rafael A.: A
primeira demo é a “Sem Futuro”, de 1998. Depois veio a “Sem Preço Para a
Liberdade”, de 2005. E, finalmente, ano passado durante o show de quinze anos
lançamos a coletânea “Manifesto”, que reúne as duas demos com a música “Ódio”
que não havia sido lançada em lugar nenhum. Quanto a coletâneas, conforme o
João colocou aí em cima, rolam algumas por aí. Me arrisco a dizer que devemos
estar em mais lugares do que imaginamos, ainda mais com o advento das
coletâneas virtuais, enfim... Mas acho que as mais importantes são a “Punk RJ
Vol.2”, “Expresso HC” e a “Old School”, do selo Velho Rabugento Records.
O HARDCORE
AINDA FAZ AS PESSOAS PENSAREM E AVALIAREM SOBRE A SITUAÇÃO SÓCIO POLÍTICO DO
PAÍS.AINDA É UMA FORMA DE PROTESTO MUSICAL ?
Felipe
Ninja: Sim, o Hardcore ainda faz, assim como faz outras coisas também. Há
muito tempo que o Hardcore deixou de ser apenas uma forma de protesto ou de
avaliação da nossa situação politica e se tornou a forma como muita gente
consegue se expressar, falar do que se passa dentro da própria cabeça e do
coração... o Hardcore é um grito da alma, seja ele qual motivo for.
E COMO
VOCÊ VÊ ESSE LANCE DE UMA BANDA PODER DIVULGAR SEU TRABALHO EM REDES SOCIAIS,
MP3, ETC ?ATÉ, ONDE ISSO CONTRIBUI OU NÃO PRÁ UMA BANDA ?
João Luiz: Acho
ótimo, pois temos que aproveitar a tecnologia para nos divulgarmos, senão
seremos só locais, e com essa facilidade melhora pra bandas em geral.
Fabiano: Isso é
muito benéfico para as bandas e a cena. A internet contribuiu muito para as
bandas divulgarem seus trabalhos, contactarem bandas de locais distantes,
divulgar eventos. Por isso, hoje é muito mais fácil montar uma banda, veicular
zines, organizar shows e até mesmo gravar os trabalhos em casa do que há 15
anos atrás. Ainda assim a fitinha k7 e os zines enviados por cartas terão seu
valor, pelo menos para mim.
.
ALGUMA
APRESENTAÇÃO DA BANDA EM ESPECIAL ?
João Luiz: Pra mim
foi o último show com o Miguel, primeiro guitarra, no Cai Torto de 2004 em uma
quadra de futebol na Alzira Vargas (São Gonçalo/RJ), estava lotado o batera foi
o Charles de novo, o Bozo estava por lá e deu uma palhinha arrasadora em
"Nos Deixem em Paz", esse show ficou marcado, também teve um festival
em 2001 em Juiz de Fora/MG, logo depois da apresentação do DZK e outro em Ouro
Preto/MG, que depois do show pessoas locais vieram me cumprimentar, então pra
isso marcou.
Rafael A.: Eu acho
que vou ter a mesma resposta pra essa pergunta durante um bom tempo. Mas o show
de quinze anos, no Metallica Pub, foi sensacional. Conseguimos reunir vários
camaradas tocando junto com a gente, mostra de fanzines, exibição de
documentários, churrasco, ex integrantes participando do show e um público que
não víamos no Metallica Pub já fazia um bom tempo! Lembro que só de bateristas,
naquela noite, foram três!!! O Miguel, primeiro guitarrista da banda, que
tantas vezes eu fui assistir, tocou com minha guitarra (grande honra!).. Amigos
e galera cantando as músicas da banda e agitando! E mesmo com um ou outro contratempo:
Foi incrível!
Fabiano: Desde que
eu entrei na banda destaco o show na Comunidade S8, Som do Vale (valeu pela
oportunidade, Ayrton!!) e um dos shows no Metallica Pub (se não me engano foi a
não comemoração do aniversário do Rafael A...rsrsrs)
RAFAEL, FORA
O INÉRCIA, VOCÊ AINDA TRABALHA COM ZINE,SELO,BLOG E PRODUTORA. DÁ PRÁ CONCILIAR
TUDO ISSO ?
Rafael A.: Cara, sem
maiores problemas. Quando ouço coisas do tipo “... você tem que ter tempo pra
você”, me assusto. Pra mim é muito óbvio e claro que quando estou envolvido com
o meio underground, cuidando do FMZ, cobrindo shows, montando banquinha nos
eventos, produzindo shows, tocando, escrevendo, enfim, esse é o tal tempo pra
mim. É a forma como me afirmo enquanto indivíduo, cidadão, minha contribuição
para a sociedade, meu grito de revolta, minha luta... Não consigo me imaginar
sendo mais útil que envolvido com o cenário independente... Absolutamente para
todos os projetos que você citou, há planos de melhorar, fazer mais. Nem sempre
as coisas acontecem na velocidade que gostaríamos. Mas uma hora rola. O grande
lance é não parar. Não rolou aqui, faz ali e por aí vai. De qualquer forma,
considero a música e a arte de uma maneira geral a mais importante ferramenta para
se promover mudanças (ao menos a única em que ainda acredito), logo, pra mim é
um prazer poder estar envolvido com tudo isso. Não sinto como se fosse algo
desgastante nem nada parecido. É exatamente a vida e a causa que escolhi,
definitivamente.
E COMO É O
PÚBLICO DA BANDA ?
João Luiz: Entre
Punks e Hardcores, quem curte som pesado, agressivo, quem é consciente sobre os
temas em que abordamos, até o pessoal que curte som alternativo estão entre
nossos amigos e admiradores da banda, então resumindo um público bem
abrangente.
Fabiano: A galera
das antigas sempre marca uma presença nos shows e no decorrer dos anos novas
amizades surgiram e também nos prestigiam!
PLANOS
PARA O FUTURO DO INÉRCIA ?
João Luiz: Ensaiar
bastante com o novo batera, até estarmos prontos para gravar material novo e
regravar coisas antigas, em que a gravação ficou deteriorada com o tempo.
Então, sim poder lançar novo CD.
Rafael A.:
Particularmente, estou com a cabeça no show de dezesseis anos da banda. Já
concluímos que a data merece algo especial. O de quinze anos foi muito bacana,
logo, vamos ter de nos esforçar pra fazer algo ainda melhor, né? Queria muito
algo que envolva não só as bandas de amigos que tem dividido o palco conosco,
mas as diversas manifestações artísticas comuns ao meio underground. Mostra de
fanzines, enfim, temos até outubro pra fazer o melhor que conseguirmos. E tem a
necessidade de gravar material novo, colocada pelo João. Já éramos pra ter
feito isso faz tempo, mas as constantes trocas de baterista acabaram impedindo
a coisa de acontecer. Agora, com o Felipe Ninja, a coisa tem tudo pra rolar sem
maiores problemas. Estou bastante ansioso pra colocar tudo isso em
prática!
Fabiano: Compor
novas músicas, gravar algumas e tocar em lugares fora do eixo Niterói- São
Gonçalo.
Felipe
Ninja: Pretendemos gravar, temos toda a intenção de apresentar material novo
e mostrar que acima de tudo, o Punk está vivo e muitíssimo bem obrigado e nós
pretendemos manter dessa forma.
ALGUM RECADO FINAL ?
João Luiz: Sim! Quero agradecer a oportunidade e mandar um
abraço a todos os amigos e fãs do Inércia, estamos chegando aos 16 anos e sem
toda essa gente que participou, tanto ativamente com a banda e como público,
sem isso não teríamos disposição para continuar, portanto agradeço a cena
Punk/Underground em geral. Valeu!!!!
Rafael A.: Muito
obrigado pelo espaço Carlos. Te esperamos de volta a São Gonçalo ou a qualquer
show onde o Inércia for fazer um som pra tomarmos aquela nossa cerveja! Abração
meu camarada!