VilipĂȘndio

 




          

A VilipĂȘndio Ă© uma banda carioca surgida em 1996,que mostra em seu som energia  e  velocidade,mesclando HC e e Metal de uma Ășnica tacada,com referĂȘncias de DRI, Motorhead entre outros.Depois de vĂĄrias formaçÔes,conseguiram se estabilizar como um trio:Ricardo Caulfield (vocal/guitarra), Alex Franulovic (baixo/vocal) e Beto HC (bateria).EstĂŁo na estrada divulgando seu Ășltimo trabalho,A Eternidade Do Caos,onde mostram 14 petardos do mais puro crossover,resultando em um trabalho mais maduro e definitivo no som da banda.Para Falar disso e muito mais,Ricardo Caulfield cedeu essa entrevista.Confira!


Como estå indo a divulgação do novo trabalho?

Seguimos os planejamento de divulgar mĂșsica apĂłs mĂșsica e aproveitar ao mĂĄximo as vĂĄrias interpretaçÔes que as letras possibilitam. Podemos usar bastante os recursos grĂĄficos, com videos de forma criativa. O primeiro foi "O Santo da televisĂŁo" e agora seguimos com "Tem sempre um idiota querendo me ensinar uma lição". "O santo..." obteve uma resposta excelente, saiu em vĂĄrios sites do underground com destaque.
Fora essa iniciativa com videos, ainda temos a promoção de 10 anos de aniversĂĄrio junto com o Feira Moderna Zine, que tambĂ©m completa uma dĂ©cada. NĂłs estamos dando uma grande quantidade de cds para aqueles que pegarem um exemplar da Feira Moderna. A pessoa poderĂĄ ganhar o "15 Abismos". "Um segundo de glĂłria" ou mesmo o novo, "A eternidade do caos". Mas claro, quem ganhou, ganhou, Ă© sĂł enquanto houver exemplares do zine. Depois, sĂł comprando. TambĂ©m vale ressaltar que esta parceria foi feita justamente porque o Feira Moderna Ă© um veĂ­culo muito sĂ©rio, hĂĄ anos dedicado ao underground. É uma proposta com a qual a banda se identifica.

No momento estamos preparando um show que deve ser a marca da banda em 2013, para isso vamos incluir mĂșsicas, nĂŁo sĂł do novo disco, mas antigas que nunca foram tocadas pela banda. Ainda estamos pensando, mas vamos preparar surpresas para quem conhece a banda.

Chegaram a enviar algum trabalho prĂĄ fora do paĂ­s?

O site www.metalpunk.com vende nossos trabalhos, é um site canadense. Estamos também na Enciclopedia do metal (www.metal-archives.com/) e no Spirit of metal (www.spirit-of-metal.com) Para 2013. pensamos em fazer um contato maior com sites e gravadoras de Portugal e também de paísesl lingua latina. Por enquanto, são planos.

A banda jĂĄ passou por inĂșmeras formaçÔes.Como vc vĂȘ isso nesses 15 anos de banda?

Na realidade, são 10 anos, porque contamos que tudo começou mesmo em 2002. Antes, não havia shows e os ensaios eram mais brincadeira. Na realidade, nem formação completa, a gente tinha. Era eu e o Marcio Bukowiski, depois apareceu o Alexandre Salinger, que gravou a bateria, mas nunca fez um show conosco. Isto é importante porque quando fizemos o primeiro show em 2002, a mentalidade se transformou e passamos a julgar tudo de outra forma.

As pessoas saem de uma banda geralmente porque nĂŁo tem tempo para se dedicar ou nĂŁo estĂŁo tendo afinidade com a proposta. O VilipĂȘndio Ă© um grupo com um som original que toca em portuguĂȘs e isso nĂŁo Ă© pra todo mundo. Todos integrantes tem espaço para trazer novas idĂ©ias e dar sugestĂ”es.

Infelizmente as formaçÔes mudam e atrapalham tudo, principalmente a divulgação dos trabalhos. Quando entra alguĂ©m novo pode ser bom, sĂł que isso nos devolve a um ponto anterior. É como andar uma casa pra trĂĄs em um jogo. Felizmente muitas vezes este retrocesso acaba se tornando um impulso para conquistas maiores. Em uma banda de rock, Ă© preciso ser otimista sempre. Caso contrĂĄrio, vocĂȘ entrega os pontos. Para funcionar, o VilipĂȘndio precisa de um clima que Ă© um misto de deboche, violĂȘncia sonora e insubmissĂŁo, uma alegria anĂĄrquica que Ă© dificil de descrever. É preciso estar nesta vibração quase adolescente. O VilipĂȘndio nĂŁo faz uma mĂșsica para dizer que tudo Ă© uma porcaria e o ser humano Ă© um derrotado. Fazemos mĂșsicas como "Tem sempre um idiota..." ou seja, uma faixa para a pessoa ouvir e dizer para si mesmo: "ninguĂ©m vai me fazer de estĂșpido". É para se indignar, nĂŁo para se acomodar. EntĂŁo Ă© preciso que a todos estejam nesta vibração, quando isso nĂŁo acontece, o som Ă© afetado.

Vale dizer que ninguém saiu da banda brigado. Pelo menos, uns 3 integrantes jå tiveram duas passagens pela banda. Quando alguém sai, eu penso logo em chamar um ex-integrante, porque jå sabe como tocar as musicas. Mas o ideal é que a formação não mude nunca mais. Isto, infelizmente, é muito dificil.


Fale sobre cada cd lançado da vilipĂȘndio.

15 ABISMOS (2002)
contĂ©m faixas que estĂŁo entre as melhores da banda, como "Eu defendo a lei", "Olhos vemelhos" e "De olhos bem abertos". A nossa falta de experiĂȘncia como musicos se traduziu em um vigor que foi acentuado na masterização bem saturada. As faixas soam mais como um manifesto do que uma obra pra ser ouvida! É nosso trabalho mais hardcore. Por outro lado, nas Ășltimas faixas existe um clima muito depressivo e desesperado que marca mesmo uma fase lĂ­rica da minha vida, mas que nĂŁo me imagino revisistando.

Vale ressaltar que este disco acabou inspirando um livro homĂŽnimo do CD, em que cada mĂșsica originou um capĂ­tulo. Este livro recebeu uma tiragem independente pequena, mas tambĂ©m foi disponibilizado gratuitamente no site www.vilipendio.com.

UM SEGUNDO DE GLÓRIA (2007)
- Ă© mais musical e polido, e tem faixas que gosto bastante como "A saga de um hospital pĂșblico" e "A histĂłria de JoĂŁo H", esta Ășltima se dividindo em duas partes, "A lenda" e "A verdade", sobre um suposto serial killer. "Anestesiado" Ă© uma das favoritas do publico. Acho que ficou um disco mais civilizado, mas sem perder a proposta da banda. Sonoramente, eu considero este mais punk na pegada, menos veloz no andamento. Eu tambĂ©m grito menos e canto mais.

A
ETERNIDADE DO CAOS (2011) -
Saiu no final de 2011 e isto somado a duas mudanças de formação acabou atrasando nossos planos de divulgação. É o disco que remete ao radicalismo do primeiro trabalho por extremamente barulhento e saturado. Tem momentos que sĂŁo puro metal como "Meu nome Ă© vingança" e outros diferentes de tudo o que jĂĄ fizemos, como o groove apresentado em "Tem sempre um idiota querendo me ensinar uma lição". Destaco "A valsa da derrocada" que tem ate piano.Temos punk, hardcore e metal no estilo anos 80. Engraçado que algumas pessoas jĂĄ chamaram o CD de experimental, eu fiquei orgulhoso disso. È o primeiro disco em que compus todas as mĂșsicas sozinho.

´15 Abismos foi produzido por carlos Lopes.Como foi o entrosamento com o cara que Ă© uma das lendas do metal nacional ?

Toda gravação de disco Ă© uma experiĂȘncia transcendental em que vocĂȘ pode ir ao cĂ©u e ao inferno em uma pequena diferença de horas. VocĂȘ aprende o que fazer e o que nĂŁo fazer, vocĂȘ aprende mais sobre vocĂȘ mesmo. A gravação de "15 Abismos" atĂ© que foi relativamente tranquila e a produção conseguiu transformar o barulho que fazĂ­amos em algo parecido com uma banda de rock!

VocĂȘs voltariam a trabalhar com um produtor?

Para o futuro, penso em estudar mais gravação para assumir a produção e realmente fazer o melhor que estiver ao meu alcance. Acho que o ideal Ă© que os musicos assumam cada vez mais o controle total da prĂłpria obra, de forma que a banda possa gravar a qualquer hora, neste clima que hoje a internet pede, de maior instantaneidade, uma velocidade maior de criar e gravar. Isto nĂŁo acontece se vocĂȘ tem uma banda com muitos mĂșsicos e ainda um produtor. Claro que este Ă© o meu pensamento agora, mas pode ser que no futuro venhamos a trabalhar novamente com alguĂ©m produzindo, entĂŁo eu pensarei quais sĂŁo os nomes que estĂŁo no mercado e se sĂŁo acessĂ­veis financeiramente para a realidade da banda.

Hoje em dia,com a popularização de aplicativos e programas de home studio,qualquer um pode gravar com certa qualidade.Até onde vc acha isso benefico e/ou de caråter negativo,prå um trabalho musical?

Sinceramente o problema é mais como as pessoas ouvem as faixas. Em formato MP3 e em pequenas caixas de computador. O som fica péssimo. Noutro diz o Jimmy Page pediu para que as pessoas não ouçam o led em MP3! Alguns anos atrås o Bruce Dickinson pediu desculpas por uma faixa gratuita que estava sendo divulgada em mp3, por conta justamente da qualidade de åudio.

Respondendo a sua pergunta, acho os aplicativos e programas uma opção interessante. NĂŁo sou um purista, considero que a banda deve oferecer a mĂșsica com a melhor qualidade possĂ­vel. E os aplicativos de masterização ou os que permitem corrigir alguns detalhes trazem economia ao processo. Se a banda constrĂłi algo impossivel de tocar ao vivo, Ă© ela que pode se encrencar com o pĂșblico. Sou contra os recursos quando eles sĂŁo usados para enganar as pessoas tentando induzir a pensar que a banda pode fazer algo que ela nĂŁo consegue de jeito nenhum.

Um artista independente e totalmente underground como o VilipĂȘndio tem a vantagem de uma maior liberdade. Por exemplo, na faixa "A valsa da derrocada", tem piano, embora nĂŁo tenhamos um pianista fixo na banda. Quem tocou foi minha esposa, como convidada. EntĂŁo nĂŁo pretendemos tocar ao vivo essa mĂșsica (Ă© a ideia inicial). Uma banda mainstream tem menos liberdade de fazer o que quiser no estĂșdio porque tem de pensar no formato do show. Hoje estĂĄ tudo muito planejado, os caras fazem ao vivo o mesmo solo do disco, nota por nota. As bandas clĂĄssicas como Led ou Purple improvisavam direto no palco.

Mas vale a pena ressaltar que embora existam mil plug-ins de home estĂșdios, nĂŁo Ă© fĂĄcil fazer uma boa gravação, escolher timbres que combinem. Gravar ficou fĂĄcil, mas obter qualidade nem tanto. É tĂŁo fĂĄcil gravar quanto errar.

E, mesmo se formos radicalizar e imaginar um futuro em que todas as bandas gravem com uma qualidade sonora fantåstica, tudo bem, porque ainda irão se destacar as melodias, os solos, as letras. Ou seja, a criatividade e a originalidade ninguém nunca poderå fabricar.

O VilipĂȘndio sempre manteve suas letras em portuguĂȘs.Acha vĂĄlido manter esse perfil na banda?E o que acha das bandas nacionais, que mantem suas letras em outra lĂ­ngua?

O VilipĂȘndio pode gravar algumas faixas em inglĂȘs para alcançar um pĂșblico diferente, nĂŁo descartamos. Mas nĂŁo seria um disco inteiro, mas apenas algumas regravaçÔes de nossas musicas mais conhecidas. A gente pode fazer isso e lançar uma coletĂąnea virtual, Ă© uma possibilidade. A internet aproximou as bandas de um publico que antes ficava muito distante. É uma possibilidade, nĂŁo um plano imediato.

Cantamos em portuguĂȘs porque eu sinto uma necessidade de jogar com as palavras e sĂł sei fazer isso na minha lĂ­ngua. As letras em inglĂȘs das bandas brasileiras, nĂŁo raramente parecem clichĂȘs ou colagens de frases comuns. Quero dizer, nĂŁo sĂŁo muito importantes para o som. Este nĂŁo Ă© o Ă© o nosso caso, em que as letras sĂŁo fundamentais. Claro que tem bandas brasileiras que fazem letras legais em inglĂȘs...

AliĂĄs, um dos problemas do metal brasileiro Ă© que como as bandas da dĂ©cada de 80 optaram quase todas por cantar em inglĂȘs, acabou nĂŁo havendo uma evolução maior na questĂŁo lĂ­rica. Temos mĂșsicos entre os melhores do mundo, mas ainda poucos letristas bons de metal em portuguĂȘs. Como vamos cantar sobre castelos e duendes em portuguĂȘs se nĂŁo existe isso na nossa cultura? JĂĄ o punk, que Ă© mais direto, aparece com idĂ©ias mais trabalhadas.

Sua banda prima em fazer um crossover entre o punk,o hc e o metal.Mas rola uma rixa ainda com o pĂșblico do Metal e do Punk.Como vc vĂȘ essa questĂŁo?

Hoje o metal Ă© o nome de um estilo que abrange coisas muito diferentes. HĂĄ bandas de metal que sĂŁo mais parecidas com bandas de hardcore e punk do que com bandas de power metal ou prog metal, o que Ă© engraçado porque, sendo ambas dentro do universo do metal, deveriam estar mais prĂłximas. No Rio, muitos eventos reunem pacificamente fĂŁs de punk, crust, death, grind. Ou seja, os estilos mais barulhentos das duas vertentes (punk e metal). E nĂŁo rola nenhum problema com o publico. O VilipĂȘndio estĂĄ inserido neste contexto.

As pessoas se preocupam muito com rotulos e tribos, realmente isso facilita pra vender e marcar shows, mas Ă© um limite para a criatividade do mĂșsico. Imagina pensar: "nĂŁo vou fazer isso porque Ă© muito metal e eu sou hardcore", acho uma visĂŁo muito limitada. Isso Ă© cabeça de empresĂĄrio, nĂŁo deve ser a cabeça do cara que vai criar alguma coisa.

O Venom que Ă© uma das minhas referĂȘncias sempre misturou os estilos. O prĂłprio thrash nasceu de uma fusĂŁo do metal tradicional com o hardcore.

Como Ă© feita a composição de mĂșsica e letras da banda. Elas falam de quĂȘ?

Neste disco, acabou que fiz todas as mĂșsicas. Tento criar de vĂĄrias maneiras justamente para que nĂŁo soem parecidas entre si. Pode começar da letra, do riff ou de uma melodia. Dessa vez, no cd A Eternidade do caos, acho que as letras falam muito de liberdade, de nĂŁo se deixar anular. Mesmo uma faixa que conte uma histĂłria real como a "Valsa da derrocada", aborda este aspecto. Por sinal, esta mĂșsica Ă© bem diferente, Ă© baseada no caso de um taxista. Ele me contou que foi praticamente Ă  falĂȘncia porque gastou demais na festa de 15 anos da filha. Achei um drama interessante porque revela o quanto se arrisca apenas para se exibir determinado status para vizinhança. Mas no final das contas, tambĂ©m Ă© uma faixa sobre a liberdade. Qual o motivo que leva uma pessoa a se endividar sĂł para que a filha dance uma valsa com um ator do segundo escalĂŁo da TV? As pessoas estĂŁo presas por demais ao status.

E quais bandas da cena vc destaca atualmente?

Gosto das bandas do cenårio do Rio, como as punks veteranas Lacrau, o DDC, o Regime Obrigatório, Repressão Social. Em 2011, tocamos com o Homens de Verde e também achei uma ótima banda. Outras: o hardcore do Obscene Capital, o metal do Sevciuc (com o ex-batera do Vilipendio, Alexandre Fersan), o rock and roll do Granmostarda. o grind do Baga, o metal do Egocentric Molecules. O rock poético do Blake Rambeuad. O clima de blues do Wagner José e seu bando. No mainstream, sinto falta de um rock mais provocativo, um novo Raul Seixas, alguém que instigue e fale às massas sem ser muito romùntico.

Ainda em termos de punk e metal, acredito que se o Brasil tiver mais acesso a grupos de outros paĂ­ses latinos, vai encontrar um cardĂĄpio bem generoso.

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